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terça-feira, 17 de março de 2009

Reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem II

O processo de ensino e aprendizagem tem sido uma preocupação constante em minha vida profissional. Algumas vezes, motivo de satisfação; outras, de angústia. Adoto a concepção de que a educação deve servir para a humanização. Observo uma ansiosa proliferação de métodos, técnicas e “atalhos” pedagógicos voltados tão-somente para a integração do educando ao mercado de trabalho e ao imediato: e é nesse ponto que, em nome de um suposto sucesso educacional, o educando é obrigado a, em alguns aspectos, desumanizar-se.
Não acho que necessariamente o educando tenha que “integrar-se”, ele pode, sem problemas, ser um outsider. O que não se pode é negligenciar a oferta de um ensino comprometido com os conteúdos universalmente essenciais, possibilitando uma intervenção no mundo (que se traduz no importante, porém tão deturpado princípio do exercício da cidadania). Acredito também que essa intervenção pode e deve se dar como aprendizagem significativa, motivando o estudo e tornando socialmente relevante o ato de aprender.
Os objetivos de ensino, conteúdos, métodos e recursos didáticos, bem como o processo de avaliação, têm ligação direta com a concepção pedagógica. Assim, numa perspectiva humanista, os conteúdos devem ser aqueles indispensáveis à afirmação da cidadania, os métodos e os recursos devem primar por uma dinâmica em que professor e aluno interajam com os mínimos ruídos, tendo como base um canal psicológico eficaz e empatia mútua. O processo de avaliação, por sua vez, tem que considerar as condições concretas de estudo do educando, seus avanços e recuos, como ele expressa o que aprendeu, suas limitações e como superá-las.
Em geral, a minha interação com os alunos tem sido muito boa, o que me deixa contente, claro. Mas, por outro lado, uma questão me preocupa bastante: é o fato de que sei que existem alunos que precisam de mais atenção que outros e de métodos e recursos específicos – e nem sempre consigo me dedicar a eles como deveria: um dos principais obstáculos é o número elevado de alunos por sala.
Felizmente, apesar de não ser fácil a vida de professor em um país que não investe em educação o que deveria investir e que não paga salários dignos aos profissionais da educação – apesar disso, ainda não fui atingido pelo burnout (espero não sê-lo jamais) e continua íntegro meu otimismo: elemento indispensável para quem acredita que por meio do trabalho docente é possível tornar menos sórdida a realidade.

sábado, 14 de março de 2009

Reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem I

O processo de ensino-aprendizagem precisa ser compreendido como o que de fato é: processo. Logo, em sua gênese, a palavra que o define aponta para sua essência: inacabamento, dialeticidade, contradição.
É feito de interação: algo está se processando, não somente entre educad@res e educand@s, o espaço educacional envolve outr@s agentes, como @s entes familiares, profissionais da escola e pessoas da comunidade. Mas, sem dúvida, a principal relação é entre educad@r e educand@.
Como todo processo, toda relação também é determinada pela ação recíproca d@s que a constituem: eu aprendo contigo, tu aprendes comigo. Está implícita aí a idéia de que nós, educad@res, aprendemos com noss@s alun@s, sim, isto é verdade, mas não podemos esquecer que, neste processo, ocupamos uma posição de maior responsabilidade, responsabilidade que vai além dos conteúdos que acreditamos essenciais ao conhecimento e dos procedimentos para garantir a aprendizagem: tem a ver com o lugar concreto que ocupamos no universo e com a dimensão política da existência.
Hoje, essa responsabilidade herda contribuições científicas que permitem superar o caráter meramente instrucional do ensino: o processo não é baseado num infalível retroalimentador-de-informações nas mãos de um demiurgo, pois estão em jogo tanto a subjetividade do educad@r como a do educand@, daí ser essencial conhecer a psicologia do processo. Relação afetiva: estar atento aos estados de espírito, às emoções, a silêncios, rancores, resistências...
Cada dia que passa, me sinto mais e mais preocupado com as questões didáticas: como fazer para tornar mais eficaz o processo, e eu possa diminuir a angústia (minha) de não ter atingido as metas traçadas e observar um sentimento de incapacidade por parte d@s alun@s; que possa agir de maneira colaborativa – sem esquecer que conheço o processo melhor que el@s, pois fui/estou sendo especialmente preparado para isso – e despertá-l@s para conhecimentos fundamentais aos @s cidadãs/cidadãos deste início de século, e, ao mesmo tempo, possibilitar reflexões-ações que contribuam para “aliviar a canseira da existência humana”, como diz Galileu na peça de Brecht.
Que mais dizer? Como epígrafe, uma contribuição do meu companheiro do Mídias na Educação, Hélio Helder: “que essa angústia/inquietação sirva para dar vontade de continuar lutando para a melhoria da sociedade”.


P.S.: Utilizei a arroba (@) neste texto para expressar a igualdade de gêneros, evitando a predominância do masculino na língua.