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segunda-feira, 1 de março de 2010

Educação na era digital

Se a escola não fizer uma revolução, as crianças vão fazê-la. O alerta feito por Seymour Papert em 2001 é uma realidade, mas, infelizmente, ainda há escolas e professores que fingem não ver que pararam no tempo. Com isso, estão condenando crianças e jovens à exclusão, rotulando-os como os que “não querem nada com a vida”, quando, na verdade, quem não quer nada com a vida é esse tipo de escola, baseada em um ensino artificial e que ignora ou finge ignorar as “conexões” que nossos alunos fazem todo santo dia, entre o que devem aprender, os artefatos tecnológicos de que dispõem ou têm acesso e a realidade midiática com a qual se defrontam.
Infelizmente – é triste dizer isso – já conheci adolescentes que abandonaram a escola por supostamente não quererem nada com a vida... E queriam, ah como queriam... Queriam tanto que iam à escola em um turno diferente daquele em que estudavam para freqüentar o laboratório de informática... E lá se empenhavam com tal dedicação que nem pareciam os diabinhos com que eram comparados. Havia um interesse sincero: o envolvimento com o computador lhes possibilitava aprender com prazer e encontrar sentido no que faziam, interagindo com o “mundo real” – expressão que soa redundante, mas cujo uso aqui só evidencia o artificialismo da escola em seu mundinho de notas, avaliações que não avaliam e outros absurdos.
Quando o laboratório de informática deixou de funcionar por algum tempo, cumpriu-se o prognóstico de alguns professores e aqueles adolescentes deixaram de ir à escola, passando a compor o exército de evadidos...
Posso citar outros exemplos, como o do garoto que evitava a matemática, mas que diante de uma simples animação/simulação de expressões numéricas em computador passou a simpatizar com os números e sua ciência...
Sou testemunha ocular dessas situações e dos benefícios que as Tecnologias de Informação e Comunicação trazem para a educação quando integradas ao currículo escolar e a uma pedagogia ativa, com links na realidade social e no dia-a-dia dos alunos.
Nossos alunos usam celular, mp3, mp4, iPod, pen-drive, câmera digital... como podemos orientá-los para o uso pedagógico desses artefatos, possibilitando apreender a realidade e transformá-la pela ação educativa?
O professor pode orientar os alunos a realizarem entrevistas entre eles e com outras pessoas sobre temas de estudo, gravarem no celular/mp3/mp4, editá-las em programas como o Audacity ou o Movie Maker e transformar em podcasts, disponibilizados em blogs. Pode ser feito o mesmo para a criação e edição de arquivos de vídeo, que podem ser postados em blogs ou no YouTube e compartilhados como links pedagógicos para a comunidade escolar.
A produção audiovisual pode fazer parte de uma ideia mais complexa, como um jornal (impresso e em rede) ou a criação de um projeto para a preservação da memória social (da escola, da comunidade, de uma categoria profissional).
Os professores da área de linguagens e códigos podem criar blogs com podcasts, vídeos e textos para incrementar o aprendizado da língua, proporcionando autonomia aos alunos para que façam o mesmo e se sintam senhores da própria voz.
A criação de apresentações em programas como o Impress ou o Power Point e a publicação na web (nos blogs da wordpress é possível disponibilizar esse tipo de arquivo) permite o compartilhamento e o aperfeiçoamento da organização didática de determinados temas, que podem ser explorados em debates e seminários.
De uma maneira democrática, dialógica e colaborativa, o professor pode criar suas aulas e postá-las na web (o Portal do Professor possui uma interessante ferramenta de criação e publicação de aulas), com a possibilidade de alunos e professores interagirem e opinarem sobre as aulas publicadas.
Páginas e páginas poderiam ser escritas com o detalhamento de como a escola proceder na integração de mídias e tecnologias...
Se a escola adota essa perspectiva, como filosofia e inspiração coletiva, são grandes as chances do sucesso escolar: da escola, como instituição com raízes fincadas na comunidade (local e global), dos professores, com auto-estima suficiente para afastar o burnout e se considerarem responsáveis pela disseminação da esperança num mundo melhor, dos alunos, como protagonistas, produtores culturais, e, de fato, cidadãos críticos e autônomos.