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sábado, 27 de janeiro de 2018

Viva João Remexe Bucho!

Viva João Remexe Bucho!

Tenho saudades dos doidos da minha infância.
Doca Doido, João Remexe Bucho, até mesmo Amaral – sinto saudades...
Doca Doido era uma das minhas diversões, quando ia na missa na igreja de São Miguel. Diversão minha e de outras crianças. A voz do padre Onofre parecia um eco longínquo, incompreensível, quando Doca estava na igreja e nos hipnotizava com seus badoques: pequenos arcos-e-flechas que ele fazia e carregava, sem nenhuma gabolice por seus dons artísticos.
Mas, se tinha Doca, de quem a gente se aproximava sem medo, tinha também a doida Amaral, que assombrava mulheres e crianças com uma violência imprevisível e costumava tirar a roupa no meio da rua.
Contudo, a grande unanimidade era João Remexe Bucho. João era um doido pacífico, que carregava seus papelões pela cidade, ganhava um prato de comida e ali ficava com seus solilóquios e seus projetos aeronáuticos.
Não sou desses que vivem idealizando o passado, mas na minha infância parecia ser mais fácil distinguir a loucura da lucidez. Para as crianças, essa distinção era muito importante, pois nos indicava que algumas pessoas podiam mudar repentinamente de humor (como Amaral) e que havia comportamentos aceitáveis e comportamentos não aceitáveis, que iam definindo nossos futuros papeis adultos.
Hoje, não.
Hoje, instituições políticas e grande imprensa querem que aceitemos como “normais” comportamentos bem estranhos, como o de deputados envolvidos em corrupção fazendo orações na Câmara federal, médicos que, por não concordarem com as posições políticas de um paciente, recusam atendê-lo ou expressam o desejo de que o paciente morra, um Ministro da Educação que recebe sugestões de um ator pornô, um juiz que se apresenta como símbolo da luta contra a corrupção posando sorridente ao lado de um senador corrupto...
No entanto, a grande imprensa não questiona nem a sanidade mental nem a moral desses indivíduos ilustres. Loucos ou cínicos? Os grandes jornais nada dizem sobre isso. Seremos nós, humildes cidadãos, que já não possuímos a lucidez necessária para distinguir entre o certo e o errado?
É... Tudo muito esquisito.
Quando João Remexe Bucho faleceu, um grande público foi lhe prestar homenagem.
Homenagem que nenhum desses cínicos – que zombam da nossa lucidez – merece receber.
Portanto, viva João Remexe Bucho!