Pesquisar este blog

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

17 haicais



17 haicais


I

Alienamo-nos:

não entendemos a vida,

mal vivemos o amor.


II

Camaradas meus

bolando pelo mundo:

não os esqueci.


III

Com os pés no chão

e a cabeça nas nuvens,

sobreviveremos.


IV

Desafio-me a

ser racional todo dia

e ter sensatez.


V

Dias amanhecendo

na penumbra fascista:

nós resistiremos.


VI

É preciso o Natal

para nos deixar assim

tão sentimentais?


VII

Estar dequedente

apressa-me os planos de

um dia ser gente.


VIII

Faço parte de

um milhão de almas ilhadas

mirando o além-mar.


IX

Há dias, como hoje,

em que a ternura vence 

toda violência.


X

Muito indiferentes

aos solstícios da vida,

lá se vão dois pés.


XI

Eu, melancólico?

pois deixe-me assim: haicais

fermentam em mim.


XII

Minha amada dorme.

Eu a olho em silêncio.

Tenho muita sorte.


XIII

Minha amada é tudo,

ela é demais: rumanços,

memórias, haicais.


XIV

Na longa noite 

tanto amor nos deixa tontos:

lúcida manhã.


XV

O ópio do povo, 

por toda parte, ocultando 

simples verdades. 


XVI 

Seres urbanos, 

coletivamente sós, 

aos solavancos. 


XVII 

São tempos incertos:

pois das nossas diligências 

cuidemos de perto. 



São Luís, 17 de Setembro de 2020, Dia do Negro Cosme.