17 haicais
I
Alienamo-nos:
não entendemos a vida,
mal vivemos o amor.
II
Camaradas meus
bolando pelo mundo:
não os esqueci.
III
Com os pés no chão
e a cabeça nas nuvens,
sobreviveremos.
IV
Desafio-me a
ser racional todo dia
e ter sensatez.
V
Dias amanhecendo
na penumbra fascista:
nós resistiremos.
VI
É preciso o Natal
para nos deixar assim
tão sentimentais?
VII
Estar dequedente
apressa-me os planos de
um dia ser gente.
VIII
Faço parte de
um milhão de almas ilhadas
mirando o além-mar.
IX
Há dias, como hoje,
em que a ternura vence
toda violência.
X
Muito indiferentes
aos solstícios da vida,
lá se vão dois pés.
XI
Eu, melancólico?
pois deixe-me assim: haicais
fermentam em mim.
XII
Minha amada dorme.
Eu a olho em silêncio.
Tenho muita sorte.
XIII
Minha amada é tudo,
ela é demais: rumanços,
memórias, haicais.
XIV
Na longa noite
tanto amor nos deixa tontos:
lúcida manhã.
XV
O ópio do povo,
por toda parte, ocultando
simples verdades.
XVI
Seres urbanos,
coletivamente sós,
aos solavancos.
XVII
São tempos incertos:
pois das nossas diligências
cuidemos de perto.
São Luís, 17 de Setembro de 2020, Dia do Negro Cosme.