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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Tem parea não

 


Saudades da infância... Que está logo ali, faz muito tempo não.

Eu era um menino bem saliente, caçador de conversa. Quer dizer: não é que eu quisesse caçar conversa, eu só era um garoto bem humorado, que queria levar um pouco de alegria às pessoas à minha volta. Mas eu era incompreendido. É paia, ó, mas a verdade é que fui muito, muito injustiçado quando criança.

Mamãe, por exemplo.

Um dia cheguei da escola brocado, fui tirando a camisa e gritando, com toda autoridade:

Cadê o dicumê, dona?

Ela limpou as mãos no vestido e só me olhou com aquele olhar exterminador de mãe superestressada.

E eu, ainda me achando o engraçado da história:

Cadê o dicumê, dona? Ó, teve merenda hoje na escola não...

E a frase fatídica:

Parece que a senhora já tá mais mouca que dona Salustiana...

Rapá... Foi uma coisa assim na velocidade da luz: senti foi aquele tabefe nas costas... Eu estava bebendo um copo d’água, que foi parar longe (sorte que era de plástico).

Tá pensando o quê, Ribamar? Eu num sou teus pariceiro não! Vai me chamar de louca de novo, viu?

E eu, tentando controlar o choro, sem prever que a emenda sairia pior que o soneto:

Mouca! Num foi louca, foi mouca que eu falei!

Outro tapa bem dado, que meu braço logo inchou. Aí, o inevitável: as lágrimas escapuliram, teve jeito não...

Mouca tua venta! E o dicumê inda vai demorar. Agora, te faz de doido, viu?

Saí choramingando de-va-ga-ri-nho, todo coitadinhozinho, sentei no sofá e liguei a televisão. Queria prestar atenção no desenho, enquanto massageava o braço (já que minha mão não conseguia alcançar as costas). Minha irmã chegou.

José, ó os ingresso pro circo, que eu ganhei...

E eu, dolorido, injustiçadíssimo, revoltado, nem liguei.

José, ó os ingresso que eu gan- e quando ela colocou bem diante dos meus olhos, dei um tapa que foi ingresso pra todo lado.

Quero saber dessa besteira não! falei, num tom arrogante-lacrimoso.

Eita, me engole logo! a bichinha de Maria, tão paciente... Só recolheu os ingressos e perguntou:

Que foi que aconteceu aqui?

Contei tudo, numa narrativa muito mais melodramática que os dramáticos acontecimentos.

E Maria:

Mas também eu tô é tu! Já conhecendo mamãe, querer vir com essas gracinhas pro lado dela. Só num vou dizer que foi bem empregado, porque tô vendo aí o estado do braço...

Senti o cheiro da comida provocando-me, mas mantive minha heroica impassibilidade. E, com pouco:

Mamãe tá chamando pra comer anunciou Maria.

Eu gostaria muitíssimo de me manter inflexível, de não me mover do sofá, num protesto silencioso, mas como o negócio já estava muito reimoso, me encaminhei pra mesa caladinho.

A refeição foi toda silêncios.

Quando mamãe foi recolher os pratos, me perguntou:

Tava prestando, a comida?

E eu, já esquecido de tudo:

Rum, tem parea não...

 

 Imagem disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/arroz-feij%C3%A3o-almo%C3%A7o-saud%C3%A1vel-6389038/


domingo, 22 de outubro de 2023

Palestina Livre


 

Judeus e palestinos vivendo

Sob o céu da mesma cidade

É sonho?

É absurdo?

É irreal?

Não.

É a mais próxima realidade.

 

Paradoxal,

Contrário a toda humanidade

É o pesadelo real

Que o ímpio assassino

Estado de Israel

Lança sobre a Faixa de Gaza

Transformando em escombros

Sonhos

Culturas

Vidas

E nossas almas perplexas

Diabólico Morpheu que desentranha o terror nazista

E traz

O apartheid

O genocídio

Para o povo palestino

Sob a frieza cúmplice da ONU e das nações a que ingenuamente chamamos de democráticas, civilizadas

Grandes potências ocidentais

E seus capitalistas

Insensíveis ao sangue que escorre

Aos milhares que morrem

Às ruínas na geografia de

Cidades

Corpos

Almas

Para eles, a destruição, a guerra

Tanto faz

Desde que seus negócios

Estejam em paz

 

Diante da limpeza étnica

Do horror do nazismo restabelecido

Com a complacência dos principais líderes políticos e órgãos de comunicação

Como dizer às crianças de todo o mundo

Pra escovar os dentes, pentear os cabelos e ir pra escola?

 

Não podemos

Ser reféns

Do desdém

À vida

Amém

Aos que lutam

E acreditam

 

Palestina

Livre

 

domingo, 15 de outubro de 2023

Professor...É ser o quê?

 


Professor... É ser o quê?

 

É falar sobre a vida

Procurando entendê-la

Junto com vocês

 

É trazer pra sala textos e questões

Mas lembrando que os porquês inerentes

Transcendem as provas do Enem

 

E é até – sabe o quê? – descobrir

Padrões de respostas no chat gpt...

Pra dizer: errem mais, por favor

Não sejam robôs

Os erros são seus nossos

Somos nós tentando ser como somos

 

Aceitem os desafios

intelectuais

sentimentais

éticos

etc. e tal

 

Ser professor é isso (também):

Ensinar aprender a ser Gente

Estudando a matéria (bruta)

Da vida...

(Alerta de spoiler:

Pode até doer

Mas

No Enem

Isto

Não

Vai

Cair.)

 

Pio XII, 15/10/2023, agorinha...