No
dia 02 de fevereiro concedi essa entrevista a um grupo de alunos do curso de Ciências
Naturais, da Universidade Federal do Maranhão, para apresentação de trabalho na
disciplina Fundamentos da Educação:
PERGUNTA:
Você acredita que a educação possa resolver o problema da marginalidade no
Brasil?
RESPOSTA: Não. De maneira cabal, completa e
resoluta... Não. [A educação] pode contribuir e diminuir esses índices de
desigualdade, mas como a questão da marginalidade tem origem na estrutura
desigual da sociedade capitalista, baseada em princípios de lucro e mais valia,
onde sempre haverá em uma ponta, exploradores e na outra, explorados, a educação
não pode resolver definitivamente o problema da marginalidade.
PERGUNTA:
E na região Nordeste, como o senhor acredita que acontece a marginalidade e
como, de acordo com o seu pensamento, ela pode ser resolvida?
RESPOSTA:
A região Nordeste,
ela aparece como uma das mais desfavorecidas educacionalmente. A relação disso
tem menos a ver com a educação do que com a questão econômica. Nosso país vive
um desenvolvimento desigual e com sérios problemas regionais. Vemos o Sul e o Sudeste
que são mais desenvolvidos que o Norte e o Nordeste. Por quê? Exatamente porque
no Sul e no Sudeste houve um processo de industrialização mais cedo.
PERGUNTA:
E com relação ao estado do Maranhão, que a gente vive atualmente, veem-se aí
novas politicas educacionais sendo lançadas. O senhor acredita que elas possam
resolver o problema da marginalidade?
RESPOSTA:
O estado do Maranhão
é outro exemplo. O Maranhão não tem uma política de estado específica para a
educação. Ainda se faz necessário mudar muitas coisas no estado do Maranhão em
relação à educação. [É preciso] tratar a educação com seriedade e desenvolver
politicas de estado.
PERGUNTA:
No caso do estado do Maranhão, continuando a falar da educação do nosso estado,
o senhor acha que um programa voltado totalmente para reformular as politicas
desses projetos resolveria o problema que acontece em nossa educação?
RESPOSTA:
A resolução passa
pela articulação de politicas nacionais, existem alguns programas... que no Maranhão
podem resolver alguns desses problemas, mas pra isso é preciso acontecer a
valorização do profissional de educação, é preciso tratar a questão com
transparência, é preciso articular com outros setores sociais, enfim, é
necessário uma articulação com políticas nacionais e tratar [a educação] com
seriedade e de forma democrática [...].
PERGUNTA:
E no município de Pio XII, onde você está inserido como profissional da
educação, como você vê a questão da marginalidade e essa relação entre marginalidade
e educação, bem como politicas educacionais para resolver essa questão?
RESPOSTA:
Bom, Pio XII fica
incluída nessa reflexão geral, nessa relação entre um estado onde a educação
não é prioridade e um país onde o desenvolvimento regional é completamente
desigual. Pio XII se insere nessa análise; os nossos indicadores também são
bastante adversos. O índice de desenvolvimento da educação básica em Pio XII é
inferior ao índice maranhense e a média do Maranhão está muito aquém da média
brasileira.
PERGUNTA:
O senhor acredita que levar a família e a sociedade para a escola resolveria o
problema da marginalidade?
RESPOSTA:
Nós [professores]
acreditamos que melhora, que há uma elevação do nível cultural e do capital
humano desses alunos; há uma elevação, mas não a resolução do problema [marginalidade].
PERGUNTA:
Em outro momento de sua obra, Saviani fala que a escola, em um dado momento
histórico, passou a ser instrumento da burguesia para se autofavorecer. O
senhor acredita nessa colocação?
RESPOSTA:
Eu acredito. E os
professores acabam servindo de instrumento dessa representação ideológica da
escola [...].
PERGUNTA: Professor Gilcênio, para a gente concluir, ficou bem claro, pelos seus
pontos de vista, que a educação não só não consegue resolver o problema da
marginalidade, como ela é um dos causadores ou financiadores para que essa
marginalidade continue, que ela exista, ou seja, que exista a desigualdade. Mas
assim, o senhor tem uma esperança, uma visão para o futuro, da educação com
relação a essa questão da exclusão, da marginalidade, das diferenças socioeducacionais
que existem dentro da escola, onde existem privilegiados em detrimento de
outros. Qual a sua visão para o futuro, tanto na educação como nessa questão da
marginalidade?
RESPOSTA:
Pois é, diante de
tudo isso, dá-se a impressão de que a educação não serve para nada, mas veja
só, a educação serve sim, serve exatamente para que você faça esses
esclarecimentos devidos e conscientize os alunos do que de fato acontece, de
toda essa ideologia sub-reptícia, implícita, não é descarada. Para você
entender que ideologia é essa, realmente você tem que fugir um pouco da
padronização do que diz esses documentos oficiais e conhecer essa história por
trás. Nosso trabalho é esse, o trabalho do professor é dizer: “Olha por detrás
dessa ideia de competência tem isso, não vão se deixar enganar achando que
vocês serão os ‘maiorais’” ... Ao mesmo tempo, nós, professores, devemos
desenvolver uma profunda responsabilidade de passar os conteúdos, que todo
aluno, principalmente da escola pública, tem direito a aprender, conhecer a
matemática, a língua portuguesa, a geografia, a história, a biologia, enfim,
eles têm esses direitos básicos e nem sempre isso acontece no dia-a-dia. O
trabalho do professor é: vocês precisam conhecer isso, para que vocês se tornem
cada vez mais humanos, para que possamos cada vez mais subir na nossa escala
evolutiva, mas ao mesmo tempo nós precisamos dizer... “Nosso sistema
educacional foi feito para excluir alguns ou vários de vocês.” Então, é uma
combinação de tudo isso. O professor tem que fazer um trabalho contraideológico,
dentro da escola, tentando fazer da escola um lugar melhor.
Entrevista:
Kairon Bruno Silva
Cruz
Edição
de áudio: Daciano
Ambrosio Santos Vieira & Antonio Lucas Holanda Da Silva
Transcrição:
Kairon Bruno Silva
Cruz, Sara Sabrina Cirilo Vieira e Tatiana Da Conceição Dias
Produção:
Odeninilson Dos
Santos Carvalho & Tatiana Da Conceição Dias