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sábado, 22 de dezembro de 2012

Já que o mundo não acabou



Já que o mundo não acabou, fui fazer poesia...


Já que o mundo não acabou
Um poema-brincadeira sobre o fim do mundo
Gilcênio Vieira Souza

Já que o mundo não acabou
Jogue fora essa arrogância
Desembolse sua dor
E reviva o bom da infância.

Já que o mundo não acabou
Não queira mais ser o tal
Veja no neto o avô
E em cada humano um igual.

Já que o mundo não acabou
Saia dessa indiferença
Sorria para o amor
E para o gesto de uma criança.

Já que o mundo não acabou
Não pratique a hipocrisia
Seja você, não um robô
Nem um “vai-com-os-outros, Maria”.

Já que o mundo não acabou
Se lhe pedem esperança, dê.
Sinta horror diante do horror
Não trabalhe pra morrer.

Já que o mundo não acabou
Dance agora aquele tango
Componha um samba de amor
E chame os amigos pra o rango.

Já que o mundo não acabou
Deixe de alienação
Esqueça o que a TV mostrou
Não puxe o saco do patrão.

Já que o mundo não acabou
Assista aos filmes do Chaplin
Ria e chore sem pudor
Reconte-os tintim por tintim.

Já que o mundo não acabou
Aprenda a gostar de poesia
Leia Pessoa, Quintana, Bashô
Espalhe seus versos pelo dia-a-dia

Já que o mundo não acabou
Saiba que ele pode acabar
O lema que o capitalismo criou
É: “meu lucro em primeiro lugar”.

Por isso, já que ele não acabou
Lute por um mundo sem opressão
Combata os que infligem a dor
E manipulam a informação.

Já que o mundo não acabou
Eis a chance de um novo fim:
Não agora, não na base do terror
Mas com vida digna para todos, enfim.

Pio XII, Maranhão, 22/12/2012, 11:53.

sábado, 26 de maio de 2012

O anti-facebook está condenado a vagar sem sossego sob o teto daquela velha esquina


O programa Globo News Literatura de ontem, 25/05, fez um grande desfavor para a humanidade – e principalmente para aqueles que amam a literatura: o registro em vídeo do escritor Dalton Trevisan. Os autores da façanha foram o escritor Claufe Rodrigues, que apresenta o programa, e o repórter cinematográfico William Torgano. Claufe faz questão de nos lembrar que se trata do primeiro registro em vídeo de Trevisan.
Mas o desfavor do programa da Globo não parou aí. A reportagem mostrou ainda a casa em que mora Trevisan. Sem avisar que estava filmando, do portão o autor da matéria chamou o dono da casa. Quando se aproximou e viu a câmara, Dalton voltou imediatamente. Apesar de Trevisan não ser nenhuma dessas efêmeras celebridades promovidas pela imprensa burguesa para nos distrair com bobagens e nos fazer esquecer nossos reais problemas, dá para imaginar o dia seguinte: fotógrafos e câmeras de plantão naquela esquina de Curitiba a fim de novos registros do mais novo ganhador do Prêmio Camões.
O mote para a matéria do Globo News Literatura foi exatamente esse: o Prêmio Camões, concedido a escritores em língua portuguesa, teve Dalton Trevisan como vencedor. O anúncio da 24ª edição do prêmio foi na segunda, 21.
O escritor curitibano é um dos mestres do conto. Suas narrativas curtas, diretas ao ponto, revelam as neuroses, o falso moralismo, os instintos mais torpes de personagens que se esgueiram na noite curitibana e no dia-a-dia da cidade. Apesar do sucesso de sua obra, Trevisan sempre foi avesso a badalações e raramente se deixou fotografar, comportamento que levou a imprensa a batizá-lo com o título de um dos seus livros: “o vampiro de Curitiba”.
O desfavor da Globo consiste em tentar desvendar o mistério – quem é Dalton Trevisan -, quando esse mistério é um dos pontos mais fortes da relação entre os leitores e a obra de Dalton. Tenta desfazer um dos poucos mitos vivos da literatura. E, claro, vivemos numa época em que ninguém pode ficar sem rosto e nada pode permanecer oculto (o mito é o nada que é tudo, já disse Fernando Pessoa).
Mas há também uma falta de respeito com o cidadão Dalton Trevisan, cujo direito à privacidade (não dá entrevistas, nem gosta de ser fotografado) é conhecido de longe pela imprensa. Ou será que em tempos de facebook e reality shows já não se permite mais o direito das pessoas ao anonimato?
Claufe Rodrigues fez parte dos grupos Os Camaleões e Ver o Verso, que nas décadas de 80 e 90 promoviam recitais de poesia, primeiro no Rio de Janeiro, depois por todo o país. Que bela iniciativa. Mas agora ele está na Globo. Não é coincidência que um dos amigos de Claufe e, junto com ele, um dos realizadores daqueles recitais, seja o jornalista Pedro Bial, o “cronista” do Big Brother, o principal reality show brasileiro (ninguém pode ficar sem rosto, nada pode permanecer oculto).
Quanto ao anti-facebook Dalton Trevisan, está agora condenado a vagar sem sossego sob o teto daquela velha esquina de Curitiba, às vésperas do seu 87º aniversário (14 de junho).

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Chomsky: uma educação para o conhecimento, a criatividade e a luta contra a opressão

Nessa entrevista, Noam Chomsky nos fala sobre os dois modelos de educação: um que nos mostra o caminho para pensar e agir a partir das contribuições científicas e culturais que ajudam a nos tornar humanos e a questionar a opressão; outro, que ensina a sermos obedientes, conformados e adaptados às estruturas de manutenção da ordem e do controle social.