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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Tesouro

 


O meu pai nunca se cansou da roça. Sempre trabalhou sem reclamar. Às vezes, mesmo com o sol pouco amigo, lá ia ele. E minha mãe, com as mãos nos quartos:

Tu já vai de novo, homi?

Ele era, então, um típico homem da roça.

Mas teve um tempo em que ele voltava da roça aflito, célere, olhos irritados e caía na rede e dizia que a cabeça doía. Então, o médico o proibiu de ir pra roça e, principalmente, pegar sol.

Mas papai nunca foi de passar uma tarde na rede, balançando-se com cantigas ao vento. Não; sempre foi um homem de atitude. Quando, lá mesmo no nosso povoado, abriram uma sala para alfabetização de adultos, papai foi o primeiro a se matricular. Chegou em casa todo feliz, contando a novidade.

Vou ser estudante também, igual vocês e apontou pra nós, eu, meu irmão caçula e minha irmã, um ano mais velha que eu.

Nós aplaudimos a decisão, mas mamãe foi contra:

E tu tem lá cabeça pra aprender alguma coisa ainda?

Vá estudar também, dona disse minha irmã.

E eu tenho cabeça?! respondeu mamãe, atarantada e em fuga para o terreiro.

Mas papai foi estudar e estudou – e aprendeu a ler.

Aí, teve aquele dia. Íamos pegar o carro na praça central de Pio XII, de volta para o povoado, quando papai viu o livro. Era um livro de Rubem Braga, cheio de contos, esquecido num banco da praça. Havia muitas pessoas esperando transporte para a zona rural da cidade, mas só meu pai viu o livro, como se sua recém adquirida habilidade de ler também tivesse lhe dado poderes magnéticos em relação aos objetos de leitura.

– Oxi… Esqueceram um livro aqui…

Papai saiu perguntando entre as pessoas que estavam ali pela praça se o livro era de alguma delas. Não, não era.

– Guarde com o senhor, seu Chico! – disse seu Nonato, o motorista da camionete.

Papai guardou, mas, cheio de escrúpulos como ele é, na segunda-feira foi à biblioteca municipal, ali na praça, pertinho de onde os moradores pegavam os carros com destino aos seus povoados, pois, segundo papai, alguém deveria ter pego emprestado na biblioteca e esquecido no banco da praça.

– Não, não é daqui – disse a bibliotecária, enquanto pesquisava no computador se o livro constava no acervo e se estava entre os emprestados.

Por fim, papai ficou com o livro. E o leu, por vários e vários dias. Chegávamos da escola e o encontrávamos embaixo do pé de manga, livro nas mãos, muita paciência e olhos que sorriam o mistério de uma beleza que não conseguíamos ver, mas sabíamos que estava lá.

Quando percebemos o interesse de papai pela leitura, pensamos um dia levar para ele livros que tínhamos acesso na biblioteca da escola em que estudávamos.

– Papai tem muita vontade de saber como era a avó dele – disse minha irmã. – Por isso, vou levar esse livro aqui.

E mostrou-me um bonito livro em capa dura intitulado “Mãe África”.

Papai gostou da novidade. Lia-o com avidez, inclusive à luz de velas, quando faltava energia no povoado – e olha que faltava com frequência. Ao terminar, nos perguntou:

– De onde saiu esse, tem mais?

Tinha. Na bibloteca da escola tinha uma parte da estante denominada “Literatura Negra”. Eu e minha irmã voltamos lá, escolhemos um livro cada um de nós e levamos emprestado. E foi assim que chegamos em casa com “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus – e sobre quem havíamos assistido um documentário, na aula de português – e “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo. Papai leu-os quase ao mesmo tempo. Depois da leitura, andava cabisbaixo, resmungando sozinho. Um dia mamãe perguntou o que ele tinha:

– A bichinha da Ponciá… – foi sua única e lacrimosa resposta.

– Essas leitura não tão fazendo bem pro seu pai – mamãe veio reclamar pra gente.

– Tão, sim! – respondeu minha irmã. – Até com um ar de inteligência papai tá agora, a senhora num tem reparado não?

– Pra mim ele num mudou nada – discordou mamãe, mas seus olhos em direção a papai pareciam dizer o contrário.

E mais cismada ela ficou quando papai anunciou que tinha uma viagem a fazer.

– Pra onde, homi?

– Vou bem ali, no Centro da Adelina, ver tia Aldina.

O Centro da Adelina fica a cerca de duzentos quilômetros do município de Pio XII. Mamãe não gostou da ideia.

– Fazer o quê? Sabe nem se tua tia é viva ainda…

– É claro que é! Como é que ela morreu e ninguém ficou sabendo?

Ajudamos a estabelecer alguns contatos, descobrimos que sua tia Aldina era viva, sim, e papai viajou.

Era para ser uma viagem de três dias, mas durou dez.

Minha irmã e meu irmão jogavam bola no terreiro em frente de casa, eu ajudava mamãe a levar para dentro as coisas que estavam no jirau, quando seu Nonato da camionete parou e papai desceu do carro, tão feliz que parecia mais moço. Foi abraçando a gente e contando logo as novidades.

Estava muito feliz por ter reencontrado sua tia Aldina que, apesar dos seus oitenta e oito anos, continuava lúcida e faladeira.

– Olhem isso aqui – e ele tirou da mochila uma pasta dessas de escola, de plástico transparente. Dentro dela, apenas um desenho. Uma mulher negra idosa, de olhar altivo e cocó.

– Quem é essa aí? – perguntou mamãe.

– Minha vó – respondeu papai, sem esconder o orgulho.

– Tua vó?

– Sim, minha vó, dona Joana Aldina da Conceição.

Mamãe olhava e olhava para o desenho, com um estranho encantamento.

Depois, papai plastificou o desenho que, contou-nos ele, havia sido feito por um filho de um primo seu, este, por sua vez, filho de sua tia Aldina. O desenhista fez o retrato a partir das lembranças e das vívidas descrições da tia Aldina.

O desenho foi colocado numa moldura e pregado na parede. E quando chegava gente lá em casa, não era papai quem fazia propaganda da nossa bisavó, era mamãe quem, sem disfarçar o orgulho, fazia questão de apontar para o quadro – como que para um tesouro que estivera oculto por anos e anos – e perguntar às visitas:

– Já viu o retrato da vó de Chico?

 



Pio XII, Maranhão, 23/02/2025, 16:42 hs. Para meus queridos alunos e alunas do Centro Educa Mais Jansen Veloso.

 

 

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

natal



então, é natal
: socorra
a sede e a fome
                              dos necessitados
"parem as guerras", re-clame
pois o verbo não é pó
                                   nem é só
                                                  princípio
                                                                  é fluir
entre as gentes tempos e lugares

deixe a escuta vagar entre
todos os mares
e captar os quasares
do desamparo cósmico
 
aquela criança desamparada nos escombros de Gaza
também é você

São Luís, 24/12/2024.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Imprescindíveis

 


num mundo tão de-

cadente

professores são im-

prescindíveis

pra lançar uns a-

bracadabras

e tentar despertar so-

nâmbulos

e dizer tão altiva-

mente

tire os seus li-

kes do caminho

que já não vou pas-

sar com meu burnout

 

(umas pobres cri-

ancinhas

saíram da disney-

lândia

direto pra zumbi-

lândia

mas muitas ou-

tras dormiram

ao relento des-

-ses sonhos

de ser alguém al-

gum dia)

 

e cá estão pro-

fessores

repudiando men-

tiras

e com a difí-

cil lida

de reexpli-

car o óbvio

(e combater a fa-

diga

e ainda al-

çar sua voz amiga)

nesses tão va-

zios dias

nesse fastio de i-

deias

nesse não-

sentir

nesse não-sa-

ber

nesse não ca-

ber no mundo

de tantos me-

dos e espantos

 

famílias inteiras mu-

tiladas

pedem socorro aos pro-

fessores

mestres e mestras he-

hoicos

(e de natural in-

teligência)

que resistem bra-

vamente

à promoção da ig-

norância

 

mas pode o capita-

lismo

valorizar mestres e mes-

tras

quando o que o sis-

tema quer

é implantar a aliena-

cão

nos vazios dos estu-

dantes?

 

a resposta, portan-

to, é lutar

afinal, mestre Ro-

sa ensinou-nos

a navegar nos a-

bismos

com barqui-

nhos de papel

 

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Palestina Livre


 

Sonho?

Absurdo?

Irreal?

 

Paradoxal

Contrário a toda humanidade

Pesadelo real

Que o ímpio assassino

Estado de Israel

Lança sobre a Faixa de Gaza

Transformando em ruínas

Sonhos

Culturas

Vidas

E nossas almas perplexas

Diabólico Morpheu que desentranha o terror nazista

E traz

O apartheid

O genocídio

Para o povo palestino

Sob a frieza cúmplice da ONU e das nações a que ingenuamente chamamos de democráticas, civilizadas

Grandes potências ocidentais

E seus capitalistas

Insensíveis ao sangue que escorre

Aos milhares que morrem

Às ruínas na geografia de

Cidades

Corpos

Almas

Para eles, a destruição, a guerra

Tanto faz

Desde que seus negócios

Estejam em paz

 

Diante da limpeza étnica

Do horror do nazismo restabelecido

Com a complacência dos principais líderes políticos e da imprensa autodenominada demagogicamente de "livre"

Como dizer às crianças de todo o mundo

Pra escovar os dentes, pentear os cabelos, tomar café e ir pra escola?

 

Não podemos

Ser reféns

Do desdém

À vida

 

Amém

Aos que lutam

E acreditam

 

Palestina

Livre

domingo, 12 de maio de 2024

Uma obra fundamental: “Pio XII: conhecendo o meu município”

 


No mês passado foi lançado, em Pio XII, o livro “Pio XII: conhecendo o meu município”. A obra didática foi escrita por Fabiana Chaves Oliveira, Gilcênio Vieira Souza, Iracélia Naiva de Oliveira, Maria Lúcia Ribeiro da Silva, Miriam Lopes de Oliveira Andrade e Teresa Cristina Freitas Oliveira.

O livro, que aborda a história e a geografia de Pio XII, apresenta informações imprescindíveis sobre o município, as quais não era possível encontrar, até então, reunidas e sistematizadas numa única fonte.

Na unidade sobre o espaço geográfico temos, por exemplo, uma descrição precisa de Pio XII dentro do território brasileiro, dados atualizados do IBGE e uma apresentação dos povoados locais e suas distâncias em relação à sede do município.

Na parte histórica, temos uma minuciosa reconstituição, que nos possibilita compreender o contexto sociopolítico que está na origem de Pio XII e como o município evoluiu até os presentes dias.

O capítulo sobre o meio ambiente propicia entender as relações entre o local e o universal, situando Pio XII como bioma e localidade que, como tais, sujeitam-se às interferências gerais que impactam o espaço, levando-nos a concluir pela importância da relação entre educação ambiental e qualidade de vida.

A unidade que trata da cultura mostra-nos as tradições populares locais, o lazer, os festejos e a criação artística, revelando-nos que também em suas expressões literárias Pio XII traz a marca migrante da oralidade da poesia nordestina e do cordel.

A unidade sobre os poderes, direitos e deveres apresenta aos leitores o sentido da noção democrática de cidadania e sua importância para o bom desenvolvimento das relações políticas contemporâneas.

O livro foi elaborado com bastante rigor metodológico e conceitual. Como um dos autores da obra, garanto-lhes, com orgulho, que adotamos a linha da objetividade científica na pesquisa e na escrita, o que resultou numa obra fundamental para entendermos nossa realidade local e regional.

 

P. S.: Uma errata foi acrescentada ao livro, em função da ausência ou equívoco de palavras, mas nada que comprometa a integridade ética ou científica da obra.

 

sexta-feira, 29 de março de 2024

Maranhensidades...

 




Apesar dos problemas socioeconômicos que o colocam como um dos estados mais pobres do país, o Maranhão se destaca positivamente em várias singularidades, principalmente relacionadas à sua gente e sua cultura. São exemplos disso (correndo os riscos inerentes a toda lista):

O primeiro grande poeta romântico brasileiro é o maranhense Gonçalves Dias, criador de alguns dos versos mais famosos da língua portuguesa: Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá. / As aves que aqui gorjeiam / não gorjeiam como lá.

“Terra das palmeiras” se transformou, aliás, numa outra forma de se referir ao estado do Maranhão.

Lembrando ainda que Gonçalves Dias foi um dos nossos primeiros intelectuais a revelar uma sincera preocupação com o extermínio indígena, como se constata nessas suas palavras : “Em espaço de quarenta anos se mataram e se destruíram por estas costas e sertões mais de dois milhões de índios e mais de quinhentas povoações, como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo.”

Ainda no campo da literatura – e, evidentemente correndo o risco de cometer inúmeras injustiças – destaco também a poesia singular de Sousândrade, que concebeu a história de um indígena sul-americano, o Guesa, cujas errâncias pelo mundo o fazem transitar até pela bolsa valores de Nova York, o “inferno de Wall Street”, tudo isso escrito em versos que ainda hoje soam muito à frente do seu tempo. Sousândrade foi quem concebeu a bandeira do Maranhão, mas quem se lembra dele hoje? Já em seus dias, em seus últimos dias, início do século XX (1902), Sousândrade morreu pobre, esquecido e, para alguns, com fama de louco.

Maria Firmina dos Reis é outra personalidade maranhense cuja importância histórica e literária torna-se cada vez mais evidente. Não é por menos: lançou-se no mundo das letras, campo minado predominantemente masculino; escreveu um livro, Úrsula, em que, apesar dos seus signos ultrarromânticos, representa, no âmbito do romance latino-americano, a primeira vez em que se narra o horror da escravidão do ponto de vista dos escravizados, principalmente pela voz da personagem mãe Suzana.

Firmina fez mais: ela, que também foi uma das primeiras concursadas do Maranhão, organizou, em Maçaricó, povoado da cidade de Guimarães, uma escola mista: meninos e meninas estudavam na mesma sala. E o que hoje pode parecer comum, era algo avançado para a época, de tal maneira que a experiência foi interrompida. Lamentavelmente, pois sabe-se já há algum tempo que essa “mistura” gera mais conhecimento, pois os estudantes aprendem também entre si e com a diversidade de experiências dos colegas.

No campo musical, já no século XX, temos mais uma vez a vitória do gênio sobre a adversidade: o cantor e compositor João do Vale. Menino pobre, negro e que pouco frequentou a escola, pois tinha que trabalhar vendendo laranjas, ou como peão de obras, ou em outros serviços extenuantes, João do Vale deixou o Maranhão, chegou ao Rio de Janeiro e conseguiu gravar algumas das canções que há tempos compunha. Entre essas, joias como Carcará, De Teresina a São Luís, Fogo no Paraná, Asa do vento, Pisa na fulô e várias outras; todas com o DNA do Maranhão (e do Brasil).

No âmbito da história do Maranhão, um recorte em que não cabem só heróis, mas em que até alguns vilões estão incluídos, por representarem também (negativamente) essa maranhensidade; como exemplos: Dona Ana Jansen e o senador Vitorino Freire. Ambos representam a violência do poder.

Ana Jansen entrou para a história com fama de má. Século XIX. Fazendeira, muito rica, contam-se inúmeras histórias do sadismo com que ela torturava e matava seus escravos. Uma releitura mais recente diz que não teria sido tão má como a pintaram, mas que tais boatos provêm do fato de ter sido uma mulher com muito poder na política local, “privilégio” reservado aos homens. Seja como for, a lenda da carruagem de Ana Jansen, rodando fantasmagoricamente pelas ruas antigas da São Luís histórica está aí no imaginário popular.

Outro símbolo da violência política na terra das palmeiras é Vitorino Freire. Político oligarca, coronelista, conhecido por perseguir, ameaçar, aniquilar opositores. O jornalista e escritor José Louzeiro, por exemplo, teve que ir embora do Maranhão, em 1953, ameaçado de morte por Vitorino Freire (a coisa boa é que no Rio de Janeiro, onde foi morar, Louzeiro escreveu livros, reportagens, roteiros de filmes e telenovelas que o consagraram como um importante escritor brasileiro).

Mas, na política, temos também nossos heróis. Citarei apenas um: Cosme Bento das Chagas. Cosme foi o grande líder do movimento popular conhecido como “Balaiada” (1838-1841). Foi um movimento dos pobres (escravos, ex-escravos, agricultores, etc.) contra os grandes fazendeiros, comerciantes e a elite governante local, cujas ações políticas estavam tão-somente voltadas para o seu próprio bem-estar e enriquecimento, enquanto a maioria da população maranhense padecia com a opressão e a exploração impostas por estes políticos. Enquanto vários balaios se entregaram ou traíram o movimento, o líder quilombola Cosme lutou até o fim: foi enforcado em 1842. Em homenagem a ele, em 2016, Flávio Dino, então governador do Maranhão, sancionou uma lei que estabelece o 17 de setembro como o Dia de Negro Cosme. Até os dias de hoje, a Balaiada continua sendo o grande símbolo da luta dos maranhenses por dignidade, justiça, respeito e contra as desigualdades sociais.

Por fim, mas ainda com muito por dizer, lembremos de singularidades como o tambor de crioula, o bumba-meu-boi, o reggae maranhense. Tão singulares que o tambor de crioula foi considerado patrimônio cultural do Brasil e o bumba-meu-boi, patrimônio cultural imaterial da humanidade.

Quanto ao reggae, é o “agarradinho” que o maranhense imprimiu ao dançar, o que torna esse gênero uma coisa bem singular.

Todas essas manifestações culturais expressam a alquimia da dor e do sofrimento transformados em prazer e alegria.

Quanto aos lençóis maranhenses... Bem, o que dizer? Apenas falar do espanto hipnotizante, do encantamento de se perder a vista em dunas, areia, lagoas que parecem se encontrar com o céu. Oxalá que jamais sejam privatizados, que os governantes não se descuidem jamais de proteger esse lugar. Visitem, assim que puderem, pois minhas palavras ainda não possuem poesia suficiente para descrever esse deserto paradisíaco.


Foto: Tambor de crioula. IPHAN, 2007.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Por um ambiente digital mais saudável e transparente - Ariele Rodrigues


 

Por um ambiente digital mais saudável e transparente

 

Ariele Rodrigues

 

Atualmente, a população tem desfrutado de acesso irrestrito às redes sociais, depositando total confiança nelas e, muitas vezes, sem considerar as consequências dessa confiança. No entanto, é importante destacar que junto com essa liberdade vem a propagação desenfreada de informações falsas, o que tem causado diversos danos aos usuários dessas plataformas digitais. Diante desse cenário preocupante, surgem propostas como o Projeto de Lei 2.630/2020, que visa combater esse problema e oferecer uma alternativa para lidar com a disseminação de fake news e discursos de ódio.

Atuando como uma resposta às problemáticas enfrentadas nas mídias sociais, o Projeto de Lei 2.630/2020, conhecido como “PL das fake news”, foi elaborado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), em parceria com outros parlamentares. Compreendendo a necessidade de regulamentar o ambiente digital e proteger os que fazem uso desse espaço, o projeto propõe medidas para combater a disseminação de informações falsas, a manipulação de conteúdo e os discursos de ódio. Ao estabelecer diretrizes e responsabilidades para as plataformas e os usuários, busca-se assegurar um ambiente mais seguro e confiável para todos que utilizam as redes.

Assim sendo, discussões têm surgido em torno da aprovação desse plano, envolvendo diferentes setores da sociedade, especialistas e políticos. Argumentos a favor do projeto destacam a importância de regulamentar as redes sociais, responsabilizando as plataformas pela veracidade das informações compartilhadas e pelo combate à disseminação de conteúdo prejudicial. Por outro lado, há vozes críticas que questionam a eficácia do projeto, argumentando que poderia restringir a liberdade de expressão e abrir espaço para possíveis abusos por parte das autoridades.

Nesse sentido, especialistas como Rose Marie Santini, fundadora e diretora do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da UFRJ, defendem que o PL é um ótimo projeto, e que possui determinação suficiente para proteger a população contra os danos causados por aqueles que buscam disseminar ódio e desinformação. Em contrapartida, o advogado e professor André Marsiglia postula que o referido plano não apresenta capacidade nem qualificação para resolver os problemas que permeiam o meio digital. Ele argumenta que a respectiva proposta, ao restringir a liberdade de expressão das plataformas, acaba limitando seu uso de maneira considerável.

Em vista disso, faz-se necessário dizer que o plano não pretende restringir a liberdade das pessoas que fazem uso das plataformas digitais de forma legítima e responsável. Pelo contrário, busca-se estabelecer diretrizes claras e responsabilidades para essas plataformas, a fim de garantir um ambiente mais seguro e confiável para todos os usuários. É importante ressaltar que a disseminação de informações falsas e discursos de ódio pode causar danos significativos, como a manipulação de opiniões, o prejuízo à reputação de indivíduos e até mesmo a instigação à violência. Portanto, o projeto visa combater esses problemas por meio de medidas que visam a verificação de fatos, a transparência nas políticas de uso das plataformas e o estabelecimento de mecanismos de denúncia e remoção de conteúdos danosos. Dessa forma, objetiva-se conciliar a proteção dos usuários com a preservação dos princípios democráticos, garantindo um ambiente digital mais seguro e confiável para todos.

Em conclusão, a propagação de informações falsas e discursos de ódio nas redes sociais representa uma preocupação crescente na sociedade atual. Nesse ínterim, o PL 2.630/2020 busca oferecer uma alternativa para lidar com esse problema, visando combater a disseminação de conteúdos nocivos e promover um ambiente digital mais seguro e transparente. Embora haja debates sobre a eficácia e possíveis impactos na liberdade de expressão, é crucial estabelecer diretrizes claras e responsabilidades para as plataformas, garantindo a verificação de informações, a transparência nas políticas de uso e a adoção de mecanismos eficientes de denúncia e remoção de conteúdos danosos. Dessa forma, busca-se proteger os usuários e preservar os princípios democráticos, assegurando um meio digital saudável para a troca de informações e o exercício da liberdade de expressão.

 

Imagem de domínio público: https://pixabay.com/pt/illustrations/not%C3%ADcias-falsas-fonte-texto-7170087/