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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Interdisciplinaridade, práxis pedagógica e uma menina de ouro

A interdisciplinaridade pressupõe a sinergia dos educadores, que devem procurar compreender um problema sob os múltiplos aspectos que o constituem. A integração de saberes na tentativa de buscar as respostas para um dado problema representa o melhor caminho para uma práxis interdisciplinar. O filósofo norte-americano John Dewey dizia que “o aprendizado se dá justamente quando os alunos são colocados diante de problemas reais”, afinal, “as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo” (In: Nova Escola, edição 159, jan/2003, Grandes Pensadores – John Dewey: Atual há 100 anos).

Uma ação interdisciplinar voltada para a resolução de um problema de real interesse para a comunidade escolar expressa a possibilidade de uma prática educativa realmente eficaz, pois mobiliza um envolvimento concreto, um pensamento coletivo e um fazer científico psicologicamente motivado.

Dessa forma, a interdisciplinaridade significa a ação pedagógica transformada em intervenção efetiva na realidade social. O grande problema que os educadores precisam resolver é como fazer para que os projetos interdisciplinares não se convertam em mero “cumprimento de tabela”, explorando de maneira superficial os problemas a que se propõe.

Um exemplo de práxis interdisciplinar pode ser visto no filme “Escritores da Liberdade” (Freedom Writers, 2007). Nele, Erin, uma professora de inglês e literatura (Hilary Swank, de “Menina de Ouro”) encontra uma turma de alunos envolvidos com gangues. A sala de aula está dividida em guetos (negros, latinos, asiáticos). Como fazer uma galera assim sentir-se motivada para ler “A Odisséia” de Homero? Sem contar com o apoio da direção da escola, mas munida de muita força de vontade, a professora desperta nos alunos o interesse pelo “Diário de Anne Frank” e, aos poucos, da leitura do livro, a turma já está lendo o mundo (como diria Paulo Freire), visitando o Museu da Tolerância, conhecendo o terror nazista contra os judeus, escrevendo cartas para Miep Gies (a senhora que escondeu Anne Frank dos nazistas, ainda viva à época) e convencendo-a ir à escola e conversar com eles sobre a guerra. A ação auto-afirmativa leva-os a expressar seus próprios problemas em diários pessoais, que depois se transformam em um livro de sucesso. Língua, literatura, artes plásticas, história, geografia, um conjunto de saberes são mobilizados para que os alunos saiam do caos diário a que estão submetidos e conquistem o respeito das pessoas.

O filme poderia ser mais uma daquelas historias piegas e idealista; mas tem um detalhe: a história é real. No final, impotente diante de um sistema educacional petrificado (apesar do sucesso do projeto e da escola ter ficado conhecida mundialmente), a professora e os alunos criaram uma fundação, cujo endereço na web é: http://www.freedomwritersfoundation.org/site/c.kqIXL2PFJtH/b.2259975/k.BF19/Home.htm.

Só lamentamos não ser possível para nós, professores brasileiros, lecionar em uma única escola e em uma única turma, como a professora Erin...

REFERÊNCIAS:

Grandes Pensadores – John Dewey: Atual há 100 anos. Nova Escola, edição 159, jan/2003. São Paulo: Abril, 2003.

Freedom Writers Foundation. Disponível em:

http://www.freedomwritersfoundation.org/site/c.kqIXL2PFJtH/b.2259975/k.BF19/Home.htm.

Acesso em: 13 nov. 2008.

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