Então, sou avô!
Faz uma semana
que entrei no reino da “vovonidade”, espécie de dupla paternidade ou
maternidade, condição que pode ser confundida com o despontar da maturidade ou
o prenúncio da terceira idade. Ou com nada disso: ser somente um momento
singularmente místico (somente, eu disse?). Então, aos 49 anos de idade,
tornei-me avô duma linda menina.
E, como todo avô
“muderno” (e babão), passo meus dias tirando fotos da minha netinha (quando
acorda, quando sorri, quando se espreguiça), enviando-as para as pessoas da
família. Sinto-me feliz por viver numa época em que podemos registrar
imediatamente os momentos marcantes da nossa vida e compartilhá-los com amigos
e familiares. Que sorte, a nossa.
Mesmo que
estejamos seguindo o modismo atual, fotografar acontecimentos diários e postar
imediatamente nas redes sociais, mesmo que agindo meio Maria-vai-com-as-outras,
estamos tecendo nossa memória singular que, numa teia de tantos posts
similares, compõem algo como uma memória social, descontados os clichês
presentes em cada postagem (não sei se a semiótica, a sociologia, a psicologia
etc. se interessam por essa imprescindível constatação científica de um
recém-avô…).
Mas, talvez as
pessoas da minha geração se lembrem – e se lamentem – que o nosso vínculo com
as nossas origens nem sempre foi tão direto e transparente. E foi assim que, ao
tornar-me avô, constato, melancólico, que não sei os nomes das minhas avós.
Isso mesmo: não sei como minhas avós se chamavam. Sei que meus avôs eram o
senhor Manoel (o qual ainda cheguei a conhecer) e o senhor Simão Lino (que,
infelizmente, não conheci). Mas… e minhas avós, como se chamavam? Por que seus
nomes foram apagados das nossas vidas? (sim, pois sei que a maioria dos netos,
meus irmãos, também vivem nesse estado de ignorância). Seus nomes foram
esquecidos somente pelo fato de serem mulheres?
Não sei qual a
explicação, leitores, mas peço-vos paciência e compreensão: terei agora que
concluir esta crônica, pois já-já vou telefonar para minha mãe e resolver duma
vez essa pendência familiar. Finalmente irei conhecer os nomes das minhas avós…
Ah, mas antes disso, lembrei-me: tenho que tirar mais uma foto da minha
netinha...
Pio XII, Maranhão, 18h22min do dia
15/05/2018.
4 comentários:
Daquelas preciosidades em forma de texto, escrito pelo melhor avô! ❤️
❤️❤️❤️
Amo esse texto, painho! 🥰💖
Que lindooo 🥰🥰🥰🥰
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