quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Meu mais novo cordel: Coisas de preto
Coisas de preto
Gilcênio Vieira Souza
Atenção todo esse povo
Que está a me escutar
Vou contar essa história
Com essa rima popular
Para que saibamos todos
Como e por que lutar.
O último país do mundo
A acabar com a escravidão
Lamentável, foi o Brasil
Isso dói no coração
Maltratar o negro aqui
É norma, não exceção.
O negro feito escravo
Esse país levantou
Cultivou a agricultura
Até nas guerras lutou
Mas foi sempre tratado
Como um ser inferior.
A escravidão acabou
Não pela princesa Isabel
Mas pelas lutas contínuas
Que não estavam só no papel
De negros e abolicionistas
Para os quais tiro o chapéu.
Arrogantes, violentos
São os donos do poder
Esses jamais aceitaram
O negro livre a viver
Por eles, a escravidão
Ainda estava a acontecer.
Em tanto setor da vida
Os negros são ameaçados...
Entre os jovens, os negros
São os mais assassinados
E também pela polícia
São os mais discriminados.
A mulher negra, então,
Ela sofre demais...
Vítima de violência
Até em leitos de hospitais
Nem ao dar à luz um filho
A mulher negra tem paz.
O jovem negro inda vive
Na invisibilidade
Logo, as cotas raciais
São de grande validade
Pra superar a injustiça,
Séculos de pura maldade.
Nesse momento vivemos
Dias tristes na nação
Com um governo golpista
Que defende a escravidão
Pois quer que o trabalhador
Seja escravo do patrão.
A gente não pode fingir
Que não vê e que não ouve
Que Temer e sua quadrilha
Querem que o pobre prove
A amargura de voltar
Lá pro século XIX.
O governo tão golpista
Na maior cara de pau
Baixou uma tal portaria
Um documento oficial
Que diz que trabalho escravo
É coisa quase normal.
Isso depois que impôs
A reforma trabalhista
Os pobres logo irão sentir
A chibata capitalista
E tentar sobreviver
Num país surrealista.
Por isso nós não podemos
Tal violência aceitar
Duma quadrilha no poder
Cada vez mais a enricar
Enquanto que a escravidão
Eles querem reimplantar.
Nossa herança africana
Devemos valorizar
Os que ergueram esse país
Precisamos respeitar
Trabalho, cultura e crenças
Desse povo exemplar.
Para os racistas que dizem:
“Isso é coisa de preto”,
Peço que olhem pra trás
E que nos tratem direito
Aos que ergueram o Brasil
Por favor, todo o respeito.
Isso é coisa de preto?
Por favor, seja franco
Do peito, o branco alimento
Que fortaleceu o branco
É da escura ama-de-leite
Que atravessou o Atlântico.
É coisa de preto também
O grande símbolo da nação:
O samba, música e dança
Do povo, forte emoção
Importante herança negra
Que traz festa ao coração.
São tantas as coisas de preto
Que nem dá pra enumerar
Coisas essas que fizeram
Todo o mundo melhorar
Com trabalho, ciência, arte
E cultura popular.
Portanto, respeite a pele
De quem fez esse país
Nosso pixaim respeite
Respeite o grosso nariz
E aplauda a ginga, a graça
Que faz o povo feliz.
O Dia da Consciência Negra
É em novembro o seu mês
Lembra Zumbi dos Palmares
E o que por nós ele fez
E que os afro-brasileiros
Têm sua hora, sua vez.
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5 comentários:
Sou da roça,sou caboclo,nasci e mamei de jeito,sou também missigenado.Também tenho sangue de PRETO!
Parabéns companheiro Gilcênio!
Pense num cordel porreta!
Parabéns, companheiro Gilcênio!
Pense num cordel porreta!
Muito bom!
Obrigado. Professor Ribamar, dedique-se ao cordel também, viu?
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