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domingo, 12 de abril de 2020

Verbo preferido


O meu verbo preferido é o verbo amar. 
Verbo que, nesse caso, pressupõe dois substantivos: João da Silva e Maria do Nascimento. 
Que podem ser substituídos pelos pronomes eu e você. 
Quando usados na frase “Eu e você nos amamos muito”, passamos a ser um sujeito composto. Mas se eu digo “Eu amo você”, eu é o sujeito (determinado, simples) e você passa a ser complemento ou objeto (direto) do meu amor. 
Mas, se é você quem diz “Eu amo você”, o eu que você fala, passa a ser a sujeita, digo, o sujeito (determinado, simples) e o você, que faz referência a mim, passo a ser complemento ou objeto (direto) do seu amor. 
Em meio a essas reflexões e já pensando no futuro e em todos os anos que viveremos juntos, transfiro a minha preferência pelo verbo amar para um outro verbo, que, embora muito popular, ainda pede para si um verbete em todos os dicionários: o verbo “coisar”. 
Sim, sou muito otimista, por isso, Maria, vejo nós dois, já velhos, mas ainda juntinhos e achando divertido estar juntos, mas, olha só – e isso faz parte da velhice – esquecendo o nome das coisas. 
Nessas situações é que o verbo coisar mostra toda sua imensa utilidade: “Coisa a lâmpada aí pra mim, João” – e  eu sei que você está querendo usar o verbo ligar (“liga a lâmpada”) e sorrio, porque continuo apaixonado pelo seu jeito de falar. 
“Maria, coisa essa janela aí, que tá entrando muita fumaça”, digo eu para você. E você, sem perguntar mais nada, vai lá e fecha a janela. 
E quando você estiver fazendo esse maravilhoso bolo de cenoura que só você sabe fazer e estivermos coladinhos no sofá assistindo TV e sentirmos no ar o cheirinho do bolo pronto nos deixando com água na boca e você disser repentinamente, “João, corre, coisa ali aquele forno!”, eu irei lá no fogão correndo o mais rápido que pode um velho apaixonado e desligarei o forno. 
E, depois, de satisfeitos nossos paladares, quando você disser, com um sorriso sacana (sim, pois os velhos também podem ser sacanas, no bom e no mau sentido): “Vamos coisar, João?” Eu, com um sorriso ainda mais sacana, responderei: “Vamos, meu amor.”
E, praticando o verbo coisar, nós dois, na nossa pacífica velhice, estaremos redescobrindo as coisas boas que só o verbo amar pode oferecer. 

Imagem de domínio público, disponível em www.pixabay.com. 

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